terça-feira, maio 23, 2017

CONTEXTO HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DO TROVADORISMO



TROVADORISMO

RESUMO: A época do trovadorismo compreende desde o início da Língua portuguesa (português arcaico), provavelmente entre 1189 e 1418. O trovadorismo abrange a Idade Média, o feudalismo (já em fase de decadência) e o teocentrismo (Deus é o centro do Universo). Portugal encontrava-se ocupado com as Cruzadas, quando deram seu fim as manifestações culturais iniciaram-se, surgindo assim o trovadorismo. O principal autor do trovadorismo foi o Rei D. Dinis que viveu de 1261 a 1325, sendo que os escritores eram denominados “trovadores”, que escreviam suas poesias e depois a cantavam com ajuda de alguns instrumentos musicais (viola, lira ou harpa). Esse tipo de literatura era dividido em dois tipos: o refrão (havia um estribilho o qual se repetia a cada final de estrofe) e mestria (poesia mais trabalhada sem uso de repetições).

Os principais temas abordados eram: poesia lírica - o amor do homem para a mulher (eu lírico masculino), denominada cantiga de amor; O amor da mulher para o homem (eu lírico feminino), denominada cantiga de amigo. Poesia Satírica - críticas indiretas aos cidadãos, denominada cantigas de escárnio; críticas diretas aos cidadãos ou pessoas ilustres da sociedade, denominadas cantigas de maldizer. As principais obras (antologias manuscritas) são: Cancioneiro da Ajuda; Cancioneiro da Vaticana; Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

CONTEXTO HISTÓRICO

O feudalismo é um modo de produção ou a maneira como as pessoas produziam os bens necessários para sua sobrevivência. Durante a Idade Média, este foi um sistema de organização social que estabelecia como as pessoas se relacionavam entre si e o lugar que cada uma delas ocupava na sociedade.

Surgimento do feudalismo: o feudalismo teve suas origens no final do século 3, se consolidou no século 8, teve seu principal desenvolvimento no século 10 e chegou a sobreviver até o final da Idade Média (século 15). Pode-se afirmar que era o sistema típico da era Medieval e que com ela se iniciou, a partir da queda do Império Romano do Ocidente (473) e com ela se encerrou, no final da Idade Média, quando houve a queda do Império Romano do Oriente (1543).

Entre as principais causas do surgimento deste sistema feudal está a decadência do Império Romano (falta de escravos e prestígio, declínio militar) já no século 3 d.C., na grave crise econômica no Império Romano. Ocorreram invasões germânicas (bárbaros) que fizeram os grandes senhores romanos abandonarem as cidades para morar no campo, em suas propriedades rurais. Esses poderosos senhores romanos criaram ali as vilas romanas, centros rurais que deram origem aos feudos e ao sistema feudal na Idade Média.

Nestas vilas romanas, pessoas menos ricas buscaram trabalho e a proteção dos grandes senhores romanos e fizeram com eles um tratado de colonato, ou seja, os mais pobres poderiam usar as terras, mas seriam obrigados a entregar parte da produção destas terras aos senhores proprietários. Isso fez com que o antigo sistema escravista de produção fosse substituído por esse novo sistema servil de produção, no qual o trabalhador rural se tornava servo do grande proprietário.

Funcionamento do feudalismo: a base do sistema feudal era a relação servil de produção. Com base nisto foram organizados os feudos, que respeitavam duas tradições: o comitatus e o colonatus. O comitatus (que vem da palavra comites, “companheiro”) era de origem romana e unia senhores de terra pelos laços de vassalagem, quando prometiam fidelidade e honra uns aos outros. No colonatus, ou colonato, o proprietário das terras concedia trabalho e proteção aos seus colonos, em troca de parte de toda a produção desses colonos.

Um senhor feudal dominava uma propriedade de terra (feudo), que compreendia uma ou mais aldeias, as terras que seus vassalos (camponeses) cultivavam, a floresta e as pastagens comuns, a terra que pertencia à Igreja paroquial e a casa senhorial – que ficava na melhor parte cultivável.

As origens desse sistema feudal, de “feudo”, palavra germânica que significa o direito que alguém possui sobre um bem ou sobre uma propriedade. Feudo, portanto, era uma unidade de produção onde a maior parte das relações sociais passava a acontecer, porque os senhores feudais (suseranos) eram poderosos e cediam a outros nobres (que se tornavam seus vassalos) as terras em troca de serviços e obrigações.

Suserania e Vassalagem: os senhores feudais possuíam terras e exploravam suas riquezas cobrando impostos e taxas desses nobres em seus territórios. Era um tratado de suserania e de vassalagem entre eles. Esses vassalos podiam ceder parte das terras recebidas para outros nobres menos poderosos que eles e passavam a ser os suseranos destes segundos vassalos, enquanto permaneciam como vassalos daquele primeiro suserano. Um vassalo recebia parte da terra e tinha que jurar fidelidade ao seu suserano, num ritual de poder e de honra, quando o vassalo se ajoelhava diante de seu suserano e prometia fidelidade e lealdade.

No sistema feudal quem concedia terras era suserano e quem as recebia era vassalo em relações baseadas em obrigações mútuas e juramentos de fidelidade. O rei concedia terras aos grandes senhores e esses, por sua vez, concediam partes dessas terras aos senhores menos poderosos - os chamados cavaleiros – que passavam a lutar por eles. Um suserano se obrigava a dar proteção militar e jurídica aos vassalos. Um vassalo investido na posse de um feudo se obrigava a prestar auxílio militar.

Sociedade feudal: Em uma sociedade feudal havia estamentos ou camadas estanques, não havia mobilidade social e não se podia passar de uma camada social para outra. Havia a camada daqueles que lutavam (Nobreza), a camada dos que rezavam (Clero) e a camada dos que trabalhavam (camponeses e servos). Com diferentes componentes: os servos – que trabalhavam nos feudos, não podiam ser vendidos como escravos, nem tinham a liberdade de deixarem a terra onde nasceram; os vilões – homens livres que viviam nas vilas e povoados e deviam obrigações aos suseranos, mas que podiam deixar o feudo quando desejassem; os nobres e o clero, que participavam da camada dominante dos senhores feudais, tinham a posse legal da terra, o poder político, militar e jurídico. No alto clero estavam o papa, os arcebispos e bispos e na alta nobreza estavam os duques, marqueses e condes. No baixo clero estavam os padres e monges e na baixa nobreza os viscondes, barões e cavaleiros.

Esses feudos eram isolados uns dos outros e necessitavam da proteção de seus senhores. Nasceram sob o medo das invasões bárbaras sofridas e que ocasionaram o final do próprio Império Romano Ocidental. Os povos que formavam os novos feudos eram as antigas conquistas dos romanos e passaram a se organizar em reinos, condados e povoados isolados para se protegerem de invasores estrangeiros. Esse isolamento também os obrigava a produzirem o necessário para a sua sobrevivência e consumo próprio.

Os senhores mais ricos submetiam os mais pobres aos trabalhos no campo e, em troca, lhes davam a proteção contra esses ataques dos estrangeiros. Tinham as armas e soldados para protegerem as populações mais pobres e delas exigiam lealdade. Com esse tratado de suserania e vassalagem foram dominando muitas partes do Império Romano extinto. A dependência fez com que os camponeses passassem a entregar aos seus suseranos também os produtos que cultivavam, suas terras e seus serviços, e se tornavam servos destes seus protetores.

A servidão dos vassalos era uma forma de escravidão mais branda. Os servos não eram vendidos, mas eram obrigados a entregarem esses produtos aos senhores durante toda a sua vida. Não se tornavam proprietários das terras que cultivavam e elas eram emprestadas para que nelas trabalhassem. Essa servidão passava dos pais para os filhos, perpetuando essa relação de dependência e proteção por gerações.

CARACTERÍSTICAS DO TROVADORISMO

O Trovadorismo foi um movimento literário que surgiu na Idade Média no século XI, na região da Provença (sul da França), se espalhou por toda a Europa e teve seu declínio no século XIV. Importante frisar que a Idade Média foi um período marcado por uma sociedade religiosa onde a Igreja Católica dominava inteiramente a Europa. Estava baseado num sistema rural, no qual o camponês vivia miseravelmente e a propriedade de terra dava liberdade e poder.

O acompanhamento pela música é a característica principal do Trovadorismo, período da literatura registrado entre 1189 e 1434. Os textos eram acompanhados por música e, por isso, chamados de cantigas. Eram cantados em coro e estavam divididos em cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas satíricas.

Cantigas de Amor: surgiram na região da Provença, França, entre os séculos XI e XVIII, onde os trovadores desenvolveram a arte do "amor cortês". Essa foi a influência das cantigas de amor em Portugal.

Características das Cantigas de Amor: Escritas em primeira pessoa; O eu-poético declara o amor à dama; O cenário é a rotina palaciana; A amada é reverenciada; Demonstração da servidão amorosa; A mulher é um ser inatingível, idealizada; O amor é idealizado; Sofrimento amoroso; Aflição; Desgosto.

Cantigas de Amigo: surgiram de um sentimento popular na Península Ibérica. Eram escritas em primeira pessoa tendo o eu-poético sempre feminino, mas os autores eram homens.
Características da Cantiga de Amigo: Sofrimento da mulher separada do amante ou amigo; Angústia; Cenário é o campo; Desejo de relacionamento entre nobres e plebeias; Reflexo da sociedade patriarcal.

Cantigas Satíricas: crítica ao contexto político e social é a marca das cantigas de satíricas, que são divididas entre cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. As sátiras refletem a sociedade medieval e os costumes.
Características das Cantigas Satíricas: Sátiras indiretas, ironia, Crítica direta; Trocadilhos; Ambiguidade.

LINGUAGEM DO TROVADORISMO

A Linguagem do Trovadorismo é musical, poética, popular, dialógica, crítica, lírica e satírica. Os trovadores eram os autores das cantigas, enquanto os jograis eram os cantores. Os menestréis, além de cantarem, tocavam as músicas, as quais eram acompanhadas por alaúdes, violas e flautas.
Nas manifestações literárias na prosa são divididas em: Novelas de cavalaria ou romances de cavalaria (relatos de heróis e seus cavaleiros); Nobiliários ou livros de linhagem (árvores genealógicas de nobres); Hagiografias (bibliografia de santos); Cronicões (narrativas históricas).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As principais características do trovadorismo são: união da poesia e da música; tradições populares, ideal cavalheiresco, temas profanos e amorosos; críticas sociais.

Cantigas de amor: o trovador confessa, de maneira dolorosa, a sua angústia, nascida do amor que não encontra receptividade. O "eu lírico" desses poemas se revela, às vezes, na forma de um apelo repetitivo, no qual não há erotismo, mas amor transcendente, idealizado.

Cantigas de amigo: o trovador apresenta o outro lado da relação amorosa, isto é, assume um novo "eu lírico": o da mulher que, humilde e ingênua, canta, por exemplo, o desgosto de amar e, depois, ser abandonada; ou o da mulher que se apaixonou e fala à natureza, à si mesma ou a outrem sobre sua tristeza, seu ideal amoroso ou, ainda, sobre os impedimentos de ver seu amado.

Cantigas de escárnio e de maldizer: são poemas satíricos. Nas de escárnio, ressaltam-se a ironia e o sarcasmo. Já as de maldizer são agressivas, abertamente eróticas, a sátira é expressa de forma direta, sem meias palavras, chegando a usar termos chulos. Escritas, às vezes, pelos mesmos autores das cantigas de amor e de amigo, revelam um terceiro “eu lírico”, cuja licenciosidade se aproxima da vida das camadas sociais mais populares.

REFERÊNCIAS


Observação: Este material foi editado para ser usado em sala de aula gratuitamente.

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