A QUEIXA DO PAVÃO
(adaptado de Esopo)
(adaptado de Esopo)
O Pavão veio queixar-se à deusa Juno. Queria saber por que razão o rouxinol havia de cantar melhor que ele.
- Não te preocupas - disse a deusa. - Tu não sabes cantar, é certo, mas tuas penas são tão formosas, cheias de olhos que parecem estrelas. Todos os animais invejam a tua beleza.
Porém ao pavão não restava consolo.
- Não me interessa a beleza, mais valera saber cantar - retrucou o pavão.
A que Juno retrucou irritada:
- Não podes querer ter de tudo. O rouxinol tem o canto, a águia tem a força e tu tens a formosura. Segura tua língua tola e contenta-se com tuas dádivas.
Moral: não discuta com a natureza.
Adaptado de Fábulas de Esopo. Tradução: Manuel Mendes da Vidigueira. São Paulo: Cultura, 1943.
O LEÃO E O RATO
(adaptado de Esopo)
(adaptado de Esopo)
Um rato foi passear sobre um leão adormecido. Quando este acordou, pegou o rato. Já estava para devorá-lo quando o rato, em um gesto de desespero, pediu ao leão para que o deixasse ir embora:
- Se me poupares - disse o rato -, te serei útil.
E o leão,achando graça naquilo, soltou-o. Tempos depois o leão ficou preso em uma rede de caçadores. O rato ouviu seus rugidos de raiva, foi até lá, roeu as cordas e o libertou. E disse ao leão:
- Naquele dia zombaste de mim. Aprende então que até entre os ratos também se encontra gratidão.
Moral: uma boa ação ganha outra.
Adaptado de Esopo. Fábulas. Tradução: Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2006.
O MENINO QUE GRITAVA LOBO!
(adaptado por Vivian French)
Para começo de conversa, o menino gostava de cuidar de carneiros. Ele podia brincar o dia todo sem que ninguém o mandasse parar, ou que o mandasse ir dar comida às galinhas ou catar ovos ou cortar lenha. Ele tocava seu apito e dançava com os carneiros que saltitavam pela grama. Ele coçava a cabeça de seu cachorro e jogava gravetos para ele ir buscar. À noitinha, ele e seu cachorro guiavam o rebanho pelo morro para se encontrarem com os outros pastores. Então, deitavam-se juntos, ao lado da fogueira, para dormir.
Depois de um certo tempo, entretanto, o menino ficou entediado.
-Não vejo graça ficar aqui sozinho - ele resmungou. - Não tenho com quem falar. Ninguém liga para mim. Só o que esses carneiros fazem é mastigar, mastigar... - Ele tocou uma musiquinha triste na sua flauta. - Até mesmo os carneiros já estão crescidos demais para dançar. E não vejo nem sinal de uma raposa ou de um loboou de um grande urso marrom...
O menino parou e olhou para os carneiros que pastavam calmamente entre flores. Ele olhou para o seu cachorro que cochilava ao sol. Ele olhou para longe, para onde os outros pastores estavam sentados tranquilamente com seus rebanhos. Ele olhou para a pequena vila lá embaixo, no vale da montanha. Homens e mulheres e crianças moviam-se lentamente em seus afazeres.
- É tudo tão MONÓTONO - disse o menino. - Tão CHATO! - e de um salto, pôs-se de pé.
Os carneiros ergueram as cabeças. O cachorro abriu os olhos.
- LOOOOOOOOOOOOOOOBO! - Gritou o menino,o mais alto que pôde.
- LOOOOOOOOOOOOOOBO! - SOCORRO! SOCORRO! - e corria de um lado para o outro, em meio aos carneiros que também corriam para todo lado, apavorados.
- BEEEEEEEEEEÉ! - eles baliam. - BEEEEEEEEEÉ!
O cachorro latiu alto, e os pastores que estavam perto dali pegaram seus cajados e vieram correndo para ajudá-lo. Lá embaixo, na vila, todos largaram seus afazeres e correram morro acima.
- Onde está ele? - perguntaram. -Onde está o lobo? É grande? É feroz? Ele pegou algum carneiro?
O menino apoiou-se em seu cajado e disse:
- Eu o enxotei! Ele era enorme e cinzento e esfomeado, mas eu o enxotei!
Todos bateram palmas. Abraçaram o menino e fizeram muita festa. No dia seguinte, seu irmão mais velho veio ajudá-lo com o rebanho. Mas, depois, seu irmão voltou para a vila e o menino novamente só. Ele suspirou ao ver seu irmão descendo o morro.
- Isso foi divertido - ele falou.
O menino cuidou dos carneiros durante mais uma semana. Ele assobiava e atirava gravetos para seu cachorro pegar, mas não tinha vontade de brincar nem de dançar.
- É tão CHATO - ele falou, esfregando o nariz e pensando. - Hum - disse ele, olhando em volta. Havia pastores cuidando dos rebanhos, e o povo da vila trabalhando lá embaixo como sempre.
- LOOOOOOOOOOOOOOOBO! - gritou o menino, batendo palmas para espantar os carneiros que ficaram se empurrando e se trombando.
- LOOOOOOOOOOOOOOOBO!
Os carneiros batiam alto. O cachorro latiu. Os pastores vieram correndo. O povo da vila subiu esbaforido morro acima.
- Onde está ele? Onde está o lobo? - eles gritaram.
O menino sacudiu a cabeça.
- Ele deve ter se escondido quando ouviu vocês - disse.
O povo e os pastores se entreolharam e vários deles balançaram a cabeça. O menino foi abraçado e chamado de corajoso, mas ninguém ficou com ele. Logo ele estava novamente sozinho.
- Venha logo - ele chamou, zangado, seu cachorro. - Vamos arrebanhar os carneiros.
O menino cuidou dos carneiros durante mais três dias. Ele não tocou seu apito e quase não falou com seu cachorro.
- Carneiros são chatos - ele falou. - É tudo muito MONÓTONO.
O cachorro abanou o rabo, mas o menino nem notou.
- Vamos nos DIVERTIR - ele falou, pondo-se de pé. - LOOOOOOOOOOBO! - ele gritou. - LOOOOOOOOOOOOBO!
Os carneiros nem se mexiam. O cachorro mlevantou-se lentamente, e alguns poucos pastores vieram correndo. Algumas pessoas da vila subiram o caminho, mas não pareceram surpresos quando o menino explicou que um lobo ENORME já havia desaparecido. Concordaram, abanando a cabeça e piscando uns para os outros, antes de retornarem às suas casa.
Naquela noite o céu estava carregado de nuvens escuras. O menino achou que estava na hora de levar seu rebanho para o outro lado do morro, quando de repente, o cachorro começou a rosnar. O menino olhou para ele, surpreso, e notou que seu pelo estava arrepiado.
- O que foi cachorro? - ele perguntou.
Os carneiros estavam irrequietos.
- BEEEEÉ! - eles baliam, ansiosamente. - BEEEEEÉ!
E aí o menino viu uma sombra cinzenta esqueirando-se, arrastando-se vagarosamente, chegando cada vez mais perto.
- LOOOOOOOOOOOOOOBO! - ele berrou.
- LOOOOOOOOOOOOOOBO!
Não veio ninguém. O menino gritou novamente, e mais uma vez, e de novo. O cachorro rosnou uma última vez e depois, ganindo, fugiu com o rabo entre as pernas.
- LOOOOOOOOOOOOOOBO! - o menino gritou e berrou, mas, msmo assim, ninguém respondeu. Com um grito agudo, correu até a árvore mais próxima e subiu rapidamente.
O lobo deu um salto.
Na manhã seguinte, não havia sobrado nehum carneiro. Sóo menino, encarapitado na árvore. Quando os pastores vieram ver por que ele não fora juntar-se a eles na beira da fogueira na noite anterior,perceberam o que havia acontecido.
- Nunca mais vou gritar "lobo"! - soluçava o menino.
- É, não vai mesmo - disseram os pastores. E levaram-no de volta à vila,onde ele passou a dar de comer às galinhas, catar ovos e cortar lenha...e nunca mais teve tempo para brincar.
As fábulas ferinas de Esopo. Tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 1997.
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